terça-feira, 3 de novembro de 2009

Jeffrey Williamson: "A vontade política é crucial para reduzir a desigualdade"

Em entrevista a ÉPOCA, o historiador econômico, professor emérito da Universidade Harvard, analisa a realidade e as perspectivas da desigualdade social na América Latina.


O historiador econômico Jeffrey Williamson é um fenômeno de produção literária. Em 47 anos lecionando nas universidades Vanderbilt (1961 a 1963), Wisconsin (1963 a 1983) e Harvard (1983 a 2008), ele escreveu 24 livros e publicou mais de 200 artigos. Em julho de 2008, aposentou-se como professor emérito das últimas instituições, mas continua pesquisando e ministrando palestras e cursos em diversos países.

Aos 74 anos, esse nativo de New England se diz um "liberal reclamão", mostra descrença sobre a possibilidade de a economia americana e mundial ser reformada após a crise e lamenta não ter estudado "a vida toda" a desigualdade social, assunto ao qual tem se dedicado.
 



ÉPOCA – Existe uma receita para reduzir a desigualdade?
Williamson –
Não, não existe. Cada país fez de sua maneira, alguns nunca fizeram. Para vários países, principalmente entre os industrializados, houve reversões nas últimas décadas, muitas motivadas por forças do mercado, que acabam por premiar algumas pessoas em detrimento de outras, criando mais desigualdade. Em alguns países as pessoas dizem: ‘a desigualdade é uma pena, mas temos que deixar o mercado funcionar’ e outros dizem ‘eu não confio tanto no mercado, e quero intervir para redistribuir’. Mas o ponto é que há forças sobre as quais o país não tem controle que podem influenciar. No caso do Brasil, por exemplo, quando há um boom no preço da soja, quem ganha é o grande produtor, e não o pequeno agricultor. É bom para a economia do país, pois amplia a entrada de moeda estrangeira, aumenta a arrecadação do governo, mas a maior parte dos ganhos vai para quem está no topo. Mas se houver um boom na demanda pelos manufaturados feitos no Brasil, o emprego cresce e há uma influência um pouco mais igualitária. Há vários fatores internos, como a qualidade da educação e o nível de intervenção, que atuam sobre a desigualdade, assim como fatores externos como os citados.




ÉPOCA – O senhor sempre cita a educação como fator importante neste debate. Qual é o papel dela para reduzir a desigualdade?
Williamson –
É fundamental, especialmente a longo prazo, em um período de duas, três gerações. Se a educação for correta, ela capacita jovens para migrar, ir para as cidades, procurar empregos melhores. Eles podem melhorar suas habilidades e ganhar melhores salários, em vez de serem excluídos do mercado por serem analfabetos. Mas apenas manter as crianças na escola não é suficiente. Por acaso estamos mandando os melhores professores para dar aulas às crianças mais pobres? Acho que não. Como você muda isso? É muito difícil. 


materia completa www.epoca.com.br

Um comentário:

  1. Muito interessante essa materia, pois mostra a importancia da educação como principal forma de combater as desigualdades. Esse é um investimento que depende de todos, inclusive das empresas. Trata-se de um compromisso de todos. Com educação melhora a saude, os habitos alimentares e atitudes sustentaveis.

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